quinta-feira, 3 de agosto de 2017

VÍDEO-ÁRBITRO


Já, aqui, numa das crómicas iniciais, tive oportunidade de esclarecer quão pouco me diz o futebol e em que truques me especializei para não parecer um tolinho na matéria, ao pé de - bem!, no tempo corrente, ao pé de qualquer português, independentemente de género, idade ou estatuto. (Têm de ler essa crónica, é divertidíssima. A mim, pelo menos, faz-me rir bastante).

Mas se conseguisse pôr-me no lugar de um entusiasta, que não sou, diria que a graça do futebol reside numa certa imperfeição humana: que eu tenha motivos para me exaltar com os outros. Com uma claque rival capaz de tudo; com os jogadores do meu próprio time (suponho que o uso do termo "time", das duas uma: ou revela um grande conhecedor do assunto, ou então um imbecil), jogadores esses que andam a dormir; até com o treinador da minha equipa, a quem aceno poeticamente com um lenço branco. Mas os erros mais apreciados são os dos árbitros. Sobretudo pela sua ambiguidade: tenho reparado que não se vêem as decisões do árbitro da mesma maneira, consoante o lado em que a pessoa se situa, no estádio.

O que seria de um verdadeiro fã sem os erros do árbitro? Sem ter por que gritar? É quase ridículo um indivíduo de camisola, cachecol e boné com as cores da sua equipa, sem a possibilidade de berrar insultos ao árbitro.

Ora, pelo que entendo, é isso que vai suceder. Já não falo das interrupções - agora pára tudo, que tem de se comunicar com o vídeo-árbitro. Então? Foi golo? Foi falta? Foi mão? O fulano estava fora de jogo, que é, penso eu, a designação técnica  para um jogador que começa, em pleno campo, a tratar de assuntos alheios ao jogo, como cantar, falar ao telemóvel, fazer truques de prestidigitação? Esperas longas, gente que adormece. E depois, o rigor que se introduzirá. Geométrico. Matemático. Não vale a pena discutir. Qual a graça de um derbi nestas condições?

Se é para prescindir dos erros de um árbitro humano, falível, comprável, passível de insultos, mais vale ir-se até às últimas consequências: porem um semáforo, em vez de obrigarem um adulto em calções a sacar de um cartão amarelo ou de um cartão vermelho. Instalarem uma sirene, ao invés de se pôr o mesmo senhor a apitar. Não precisávamos de ir assistir aos jogos: sabíamos os resultados por uma aplicação do telemóvel. Sem zangas nem discussões. Sem enfartes. Nem qualquer prazer.

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