quinta-feira, 3 de agosto de 2017

NETIQUETA

Sou discreto. Para preservar a sua identidade, designarei por Antonieta a minha amiga Eloísa.

Eloísa, perdão, Antonieta é uma das minhas melhores amigas. Está seguramente em terceiro lugar no criterioso ranking de melhores amigos por que me guio. Confio em que não se ofenderá com esta posição. Primeiramente, porque há tantas hipóteses de se reconhecer sob o nome que lhe inventei, como um toxicodependente, numa entrevista, com o rosto e a voz distorcidos. Mas, sobretudo, porque nunca lerá esta infeliz crónica.

Antonieta jogava, no Facebook, um sinistro jogo de vampiros. Seguindo os seus triunfos, não me abstinha de os comentar, chalaceando acerca da natureza ridícula do jogo e fazendo pouco dos nomes de guerra dos seus adversários. Parecia-me pacífico que achariam todos muita graça às minhas flechas de humor, que, obviamente, não tinham outra intenção.

Na verdade, o jogo era internacional. Antonieta lutava contra vampiros norte-americanos, irlandeses, suecos. Alguns, certamente, fanáticos e intolerantes. Minha amiga, ao contrário de sentir a diversão que eu lhe queria proporcionar, andava confrangida. Tinha vergonha de mim perante centenas de vampiros entusiastas. Decidiu bloquear o meu acesso à visualização do jogo.

Não percebi. Pareceu-me mal. Ofendi-me. Qual foi a minha resposta? Desamiguei-a.

Antonieta explicou-me, então, que o "desamigamento" é um gesto extremo e drástico. Vale como um insulto gravíssimo: um árbitro de futebol que enfrenta, a pé firme, as piores revelações acerca da sua mãe, por parte de um bando de energúmenos, ir-se-á, no entanto, abaixo se o desamigarem do Facebook. Foi a minha primeira lição de netiqueta.

Francamente, observando o uso que o vulgo faz da internet, tem-se alguma dificuldade em detectar qualquer código dos procedimentos aceitáveis. Ora vejam a Maria Vieira. Mas o vulgo não é só a Maria Vieira: há também aquele senhor que comenta as minhas publicações, escrevendo que ando a "exagerar nos cogumelos", signifique isso o que significar. Precisavam de uma terceira melhor amiga, também, que os esclarecesse sobre a netiqueta.

Gostaria de saber, caso não esteja a pedir de mais, se não poderei considerar um acto virtualmente anti-netiqueta, alguns amigos (tanto mais que agora sei que não deverei desamigá-los), estarem completamente à vontade para publicar as suas baboseiras no meu mural. Ou se é apenas uma irritante mania legítima.

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