segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A SUBTILEZA DOS DINOSSAUROS



Alguns leitores tomarão, certamente, este título por ironia. Não é o caso.

Há que não subestimar o valor dos dinossauros. Os garotos amam-nos; pedem que lhos comprem em miniaturas encantadoras, com as quais encenam terríveis combates; não perdem um filme com os simpáticos monstros do início da vida animal no planeta. Há miúdos que conhecem os seus variados nomes. Os quartos de todos os putos exibem-nos em posters impressionantes. E não é por obra do acaso que os dinossauros irradiam esse fascínio todo.

Considero-os uma autêntica civilização. Criaram, do ponto de vista da anatomia ou das "competências", quase tudo o que as mais variadas espécies ostentam, hoje, pelo ar, pela terra, pelas águas. Uns quantos puseram-se a voar e, simplifiquemos! inventaram assim os pássaros; mas havia-os para todos os gostos, até do ponto de vista político, ideológico e filosófico: vegetarianos e carnívoros, senhores e escravos, obesos e anorécticos, com instrumentos e aptidões contrários, aleatoriamente distribuídos, num contínuo teste à adaptação.

Civilizacionalmente, fazem-me lembrar os Antigos Gregos que, no seu tempo, também foram e também inventaram praticamente tudo: sejamos nós cínicos, idealistas, materialistas, sensualistas, atomistas, individualistas ou colectivistas, caramba!, não estamos a fazer nada - como lembra Adriano, segundo Marguerite Yourcenar - que não tivesse sido, primeiro, uma escolha de algum Antigo Grego.

É por isso que me parece que a evolução não é sempre correcta. Se o progresso tende a simplificar, não estou certo de que essa simplificação seja uma vantagem real: e sei, sobretudo, que aquilo que aparenta ser "demasiado" gigantesco e complicado, como um dinossauro, contém em si uma subtileza, um génio, que a pura eliminação desse todo, ou a sua simplificação, necessariamente farão desaparecer.

Alguém acredita que a música tenha evoluído, de Bach a Fonsi?

Alguém crê, para além dos criminosos do costume, que a tendência para se acabar com o estudo do Latim, mais os seus casos complicados, que, todavia, apuram e treinam a inteligência e o conhecimento mais profundo da mecânica das línguas vivas, suas herdeiras, pode ser ocupada pelo estudo do Castelhano, agora em voga nas áreas de Línguas e Literaturas?

Alguém está realmente convencido de que, poupar-se, aos jovens estudantes, a leitura obrigatória dos Clássicos da Literatura Portuguesa, na disciplina de Português, seja uma evolução, uma adaptação vantajosa, um progresso real?

Ou que, em resumo, progredimos com a simplificação rasteira consubstanciada por um acordo ortográfico como este?

Qualquer dinossauro perceberia a estupidez! Mas esses eram mais subtis do que parece. Por isso, em última análise, aliás, desapareceram.

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