sábado, 16 de setembro de 2017

UMA IDEOLOGIA DA RABUGICE


O PCP já existia quando os outros partidos portugueses nem em pensamento eram sequer embriões. A história do Partido Comunista é, naturalmente, a de coragens e cobardias, esperanças e traições, sobre o vector de uma absoluta coerência ideológica.

Sabíamos sempre as razões do PC: podíamos discordar, mas elas eram racionalmente reconstituíveis a partir de algumas bíblias, Marx, Lenine, Staline e, ao longo do tempo, a intransigente interpretação dos factos segundo a estratégia e as tácticas do PCUS.

Como a União Soviética já não existe e cada partido comunista, em cada país, sofreu as suas próprias mutações internas, assistimos a imprevisíveis refazer de alianças, escolhas, proscrições. Partidos que ensaiavam terceiras vias, cuidavam do seu "aggiornamento", se modernizavam, abandonando Lenine, reformulando Marx. Em todo o lado houve maquilhagens, discussões e bater de porta. Todos tiveram as suas Zita Seabra.

Deve ser difícil. A perda de um pai. E os primeiros passos da autonomia que a orfandade requer, mesmo quando já temos 30, 40, 50 anos. A quem peço agora boleia, mesada, conselho? Quem me ralha? Quem me assegura que conseguirei?

No PCP, as sucessivas reformulações tornaram-no, curiosamente, num partido mais dependente de ciúmes, invejas, ressentimentos, hábitos e manias, do que de qualquer coerência ideológica. Dois exemplos muito simples: tendo a visão de integrar a benfazeja Geringonça, não é verdade que o seu comportamento relativamente ao BE soa, muitas vezes, ao de Caim - o irmão invejoso e ciumento, capaz de um irreparável crime num instante de irreflexão e raiva, para que o "puto" não lhe passe à frente ou porque se sentiu preterido e desrespeitado?

Ou a sua posição a propósito da Coreia de Kim. Que há nesta dificuldade em reconhecer que se trata de tudo menos de uma democracia, senão uma espécie de caturrice de velho incapaz de mudar e perceber?

Em pequenos tiques e grandes tiques o PCP revela-se um partido fechado e idoso.
Na Geringonça, teria uma oportunidade única para reaprender a importância e o preço da unidade.
E do que verdadeiramente se mantém essencial para qualquer partido de esquerda, em qualquer parte do mundo e do tempo.

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