quinta-feira, 28 de setembro de 2017

AUMENTOS QUE SUBTRAEM


Sou, desde o instante da sua criação, um entusiasta da Geringonça. Numa união das esquerdas, vejo uma bússola que aponta o que não pode senão ser a possibilidade que ética e politicamente mais me toca, que é a de proteger os mais vulneráveis numa sociedade injusta, desigual, em permanente guerra civil.

Mas o PS, há que confessá-lo, é um partido ambíguo. Tem um problema, e sente-se pressionado de todos os lados. Internamente, existem facções que nunca digeriram a aliança e que  - apesar de momentaneamente tranquilas, porque as coisas têm corrido bem ao Costa - estão à escuta, silenciosa e tensamente, aguardando, prontas para a hora da punhalada.
A coligação é dura de gerir. Não duvido. BE e PC, que, para mais, não conversam entre si, são pressões atentas, exigentes e com pouca paciência.
Por fim, mais do que a oposição - a oposição está morta - temos Bruxelas e as empresas de rating.

É um equilíbrio impossível. Se não se atende aos partidos-companheiros, não se avança, pensa o Primeiro-ministro. Mas se ignorarmos Bruxelas e as as suas metas ou as companhias que nos atiram ao lixo, reflecte ele, não há confiança dos mercados, nem, portanto, investimento.

De forma que percebemos que manter os pratos todos  a girar, ao mesmo tempo, sobre as varas (corre, Centeno, que aquele está quase a cair; olha o outro, ali, a descair...) exige alguns truques, algumas distorções, algumas manigâncias. Mesmo na companhia de um Presidente que não põe obstáculos, e é um apoio extraordinário, desdramatizando, reconciliando e ajudando a compreender razões, não poderia não se recorrer a alguma engenharia financeira que ultrapassa tudo o que é compreensível.

Quando é que essa engenharia começa a cheirar mal? Eu vos digo. No ponto em que se introduz um elemento de má-fé. No ponto em que se falseia o contrato social. Quando descobrimos que nos estão a comer.

Dirão: Já viram? Estava do lado da Geringonça até começarem a tocar no seu dinheirinho. Mas não. Repito. Venham buscar o meu dinheiro, que eu sou generoso. Peçam-mo. O mal está em enganarem-me. Falarem por exemplo de reposição, quando, o que repuseram, automaticamente me fez mudar de escalão, no IRS e, ergo, receber menos do que recebia sem a dita. Não é um engano. Nem é não terem medido as consequências. É desonesto. Ponto. Eu não gosto. Ponto. Dispenso a reposição, obviamente.

Repete-se agora a esperteza. Aumentaram-me uns cêntimos no subsídio de refeição - uns cêntimos, literalmente - para, uma vez mais, me mudarem de escalão e me virem buscar mais uma maquia. Ou seja: aumentarem-me para, sob esse nome, sob essa máscara, diminuirem de facto o meu ordenado.

É este lado do PS que me irrita. Esta desonestidade nos nomes, para aproveitar de uns (a classe média, especificamente), continuando a sorrir para os parceiros.

Como os miúdos que, na hora da foto, mantêm a postura digna e inocente, enquanto, secretamente, erguem, com dois dedos sobre a cabeça do vizinho do lado, o símbolo de um par de chifres.
Mas o PS não tem a mesma graça. Neste caso, não é bem uma garotice. É uma vigarice.

3 comentários:

  1. Mudarem de escalão???? Quem me dera... seria sinal de que estava a ganhar mais...
    Meu caro, o IRS e os escalões funcionam por degraus. Mesmo que eu ganhe muito por ano, quando calcular o IRS, cobram-me o mesmo por cada escalão que a quem ganha pouco. Só me cobram as taxas correspondentes a cada escalão.

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  2. Rendimento Taxa aplicável
    até 7091 euros 14.50% 14,5
    + 7091 até 20.261 28.50%
    + 20.261 até 40.522 37%
    + 40.522 até 80.640 45%
    + 80.640 48%

    A cobrança do IRS é realizada por escalões. Se eu receber 100 000 Euros por ANO, cobram-me para os primeiros 7091 Euros, 14,5%. Dos 7091 aos 20261 Euros vão cobrar 28.5%. Dos 20.261 até 40.522 Euros aplicam a taxa de 37%, dos 40.522 até 80.640 Euros cobram 45%, e só a partir dos 80.640 Euros vão cobrar 48%.
    Em resumo, seja qual for o montante de rendimento será cobrado sempre por escalões em igualdade de circunstância com qualquer outra classe de rendimento. Quem me dera receber 80 645 euros por ano. Isto porque me irão cobrar o mesmo que cobrariam se recebesse 80640 euros, e só aplicam a taxa máxima aos 5 euros que ultrapassam o último escalão. Destes 5 euros retiravam-me quase metade. Mas por passar de escalão continuo mesmo assim a ganhar mais do que só auferisse 80640 Euros.

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  3. Facto 1: estou a receber todos os meses menos cerca de 60 euros.
    Facto 2: acontece precisamente o mesmo com todos os meus colegas em idêntica situação.
    Facto 3: perguntado, na secretaria, ao contabilista que processa os ordenados, foi-nos dada esta explicação. Estou então completamente enganado? Nesse caso há-de haver alguma explicação, que farás o favor de me dar, para eu ter recebido consideravelmente menos aquando da "reposição", e aquando de um aumento no subsídio de refeição, que não era tributável, mas (também disto fui informado) passou a ser. Não teve que ver com mudança de escalão? Aceito. Onde estão os meus 60 euros mensalmente desaparecidos?

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