segunda-feira, 11 de setembro de 2017

LA RENTRÉE


Aprendíamos, naquele manual de francês que falava da família Dupont e de seu cão Patapouf, que o dia de regresso às aulas era apenas "La rentrée".

Seria com certeza um livro muito bem concebido se, decorridos estes séculos e estas vidas, ainda me lembro tão bem de tudo isto. A menina não se chamava Nicole? Julgo que sim. Comparem-no (ou ao de filosofia, de que já falei em outra crónica, e marcou decisivamente a escolha do meu percurso académico) com os manuais que, tanto tempo de revoluções pedagógicas e didácticas volvido, são, hoje, os dos nossos filhos, fugazes, esquecíveis, impotentes para orientar vidas, iguais uns aos outros (com belas excepções, na verdade) e percebemos que se tendeu a perder uma sabedoria essencial.

Os jovens, porém, não mudaram em um aspecto. Pelo menos, à superfície: continuam a encarar o regresso como nós o fazíamos. Um idêntico misto de temor pelas novidades, novas matérias, outros professores, e o desejo de reencontrar os amigos que as férias haviam levado para longe. Uma agitação interior, uma febre de primeiros beijos e abraços, de conversas e risos de intervalo. Mudaram em outro, porém. A ansiedade por exibir: o telemóvel, que não existia para nós, os ténis, que no nosso tempo eram simples Sanjo e não os obrigatórios Nike ou Adidas, a mochila, que não ostentava marca alguma; e, claro, não mudaram na ânsia de estrear cadernos e lápis.

Antes, o "material para a rentrée" não tinha sido, ainda, elevado a objecto de um negócio maior na sociedade de consumo. A partir de certo momento, os pais, coitados, começaram a ver-se arrastados nessa tempestade consumista que também parece dever-se às alterações climáticas. A ideia de que os filhos não se preparem para o recomeço com roupa nova e novos apetrechos tecnológicos que, aliás, serão abusivamente usados durante as aulas, tornou-se um sinal dos tempos. Uma fúria gastadora. E um pesadelo.

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