sexta-feira, 15 de setembro de 2017

PLÁGIOS


Num programa radiofónico, Nilton ofereceu-nos a sua única piada de jeito em muitos anos, talvez até de toda a sua vida como comediante. A propósito de Tony Carreira e do alegado plágio de 11 canções, comentava Nilton (cito de memória): "pior do que o plágio, o que me preocupa é que haja no mundo mais onze tipos a fazer música desta!"

Em música, a identificação de um plágio obedece a critérios rigorosíssimos. Não sei quantos segundos de uma melodia similar dificilmente seriam considerados coincidência. Embora possamos dizer das coincidências: pero que las hay, las hay. Ou outra coisa ainda, para além da coincidência, que é o compositor não estar nunca inteiramente consciente de como certas influências o estimularam ou marcaram em segredo.
Seja como for, se me pusesse a falar disso (a partir de fontes fidedignas) explicaria como algumas das mais belas canções portuguesas plagiam - ou coincidem com - antigas e perfeitas melodias, sem que se dê por isso, até porque, para tanto, seria preciso conhecer os originais, os quais têm já alguns anos: os Aznavour, por exemplo. E por esta soez insinuação me fico. Cala-te boca.

A minha primeira reacção é pensar que, a um certo nível de ausência de qualidade, o plágio não devia incomodar-nos. É realmente importante que ao obrar, na sanita, esteja a copiar obra alheia? Ui. Apercebo-me rapidamente da ofensa contida na minha analogia. Hoje não estou bem. Apresso-me, pois, a pedir perdão ao cocó por estar a compará-lo com a música de Tony Carreira.

Entretanto, lembro-me de que nem é a qualidade que está em causa. As canções de Carreira & Landum podem não ser Lennon & McCartney (a menos, obviamente, que os copiassem, mas para isso careceriam de algum gosto musical), no entanto também movem multidões, gritos, beijos, perseguições, sutiãs atirados para o palco quando cantadas ao vivo. E, mais que tudo: dinheiro. É natural que as companhias discográficas se insurjam por descobrir que esse dinheiro não é para elas. Nem para os seus músicos, que originalmente as haviam composto. E composto com tanto esforço - que diabo! é preciso o dobro do esforço quando se tem poucochinho talento. Hão-de querer ganhar agora qualquer coisa. É natural.

É um número digno de se ver. Não perderei os desenvolvimentos. Ainda melhor do que estar nos melhores lugares para um espectáculo com Tony Carreira no Olympia.

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