quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

JOVEM CONSERVADOR DE DIREITA


A ironia é um dom ao alcance de raros. É uma faculdade aristocrática, no melhor sentido da palavra. Quando tentamos exercitá-la em meios muito povoados, onde reina a mediania e se nivela por baixo, como em países selvaticamente capitalistas ou nas redes sociais, é sempre incompreendida e liquidada.

Um dos maiores problemas dos regimes democráticos é, aliás, este mesmo. Como, por si só, o critério "da maioria" não dá conta das virtudes nem das estupidezes de uma maioria específica numa específica situação, ocorre que uma maioria de grunhos possa eleger um grunho-mor para presidente, ou que uma maioria de imponderados possa decidir com base em receios e preconceitos. Acontece que, no Facebook, nada mais fácil do que reunirem-se maiorias de grunhos: tipos intelectual, emocional e culturalmente elementares, incapazes de se pôr no lugar do outro, imunes ao sentido de humor e à ironia, ensopados numa qualquer obsessão promovida a Causa, alheios a razões ou argumentos. Como se sabe, o Facebook é, bastas vezes, refém das denúncias destes grupos de odiadores profissionais. Faz advertências, fecha contas, remove fotografias publicadas. Muitos grunhos não percebem que certo nu é arte, queixam-se, e o nu desaparece. Muitos grunhos sentem-se ofendidos com um post que não entenderam, queixam-se, e o autor é avisado, ou suspenso, ou censurado.

E assim, desaparece, nesta voragem censória, um dos mais inteligentes sítios, que é o Jovem Conservador de Direita. Com um misto absolutamente brilhante de sofisticação intelectual e cultural, de uma sagacidade irónica e com um ferrão crítico certeiros, este jovem, que não seria um único jovem, mas, suponho eu, um grupo, nem seria conservador, e não certamente de direita, funcionou como um Conde d'Abranhos do nosso tempo. Escalpelizava, sob a personagem de um carreirista, os tiques, as ambições, os lugares-comuns dos típicos e sôfregos elementos das juventudes partidárias.

Os comentários dos leitores eram, muitas vezes, atrozes de burrice. Curiosamente, da parte, sobretudo, de grunhos de esquerda, que liam as crónicas estrita e literalmente, sem noção de que a crítica era dirigida precisamente contra uma certa visão da direita. Que as ideias defendidas pelo autor, como "jovem conservador", se auto-destruíam, irónica e deliberadamente, pelo ridículo.

A quem não conhece as impagáveis crónicas, um apelo. Procurem-nas (estão em jornal, estão em livro), repliquem-nas, divirtam-se. O que é muito bom não morre. E em algum outro meio, o jovem conservador há-de ressurgir, com o mesmo ou com outro projecto. Espero-o(s).


Sem comentários:

Enviar um comentário